quinta-feira, 14 de maio de 2009

A Corda

Era uma vez dois países, cortados por um rio, rápido, largo, perigoso, no qual muitos se afogavam ao tentar atravessá-lo.

Em um País fluía o leite e o mel - era chamado o País da felicidade.. O outro, rasgado por brigas e devastado pela preocupação, era chamado o País da infelicidade.

Um dia um homem observa aquele rio e, por Amor, resolve fazer alguma coisa.
- Vou esticar uma corda de uma margem à outra. Mesmo que eu morra ao enfrentar os perigos do rio, não importa. No futuro, outros poderão apanhar a corda, atravessar o rio com segurança e atingir o país da Felicidade.

Esse homem executa o seu projeto: encontra uma corda, amarra uma das extremidades em uma árvore, agarra a outra ponta e mergulha na correnteza, lutando contra as ondas.

No meio da espuma e dos redemoinhos, caçadores confundem-no com um animal e atiram nele, ferindo-o mortalmente. Mas num último esforço, o homem consegue atingir a outra margem e amarrar a corda a uma árvore.
Pela falta de discernimento dos caçadores, morre, mas não antes de atingir o seu objetivo.

A partir desse momento, tal homem de coragem foi reverenciado por todos, que diziam:

- Ele morreu para nos salvar; é digno do nosso amor.

Na verdade, rendiam-lhe homenagens. Todos o faziam. Mas poucos seguiam o seu exemplo.

- Se segurarmos a corda, não corremos o risco de nos afogar... Mas... a água está tão fria e o rio é tão largo...! O perigo da travessia continua grande!

E assim, no decorrer dos anos, a corda foi esquecida. Coberta de algas e de galhos, não era mais visível.

Porém, o culto ao herói sobreviveu: o povo construiu monumentos em sua memória, cantou hinos em sua honra e continuou evocando o seu nome, pelo grande amor que aquele ser lhes havia dedicado.

Vieram as gerações: a segunda, a terceira, a quarta... Oradores, cientistas e letrados falavam das virtudes do herói e diziam como que, morrendo, ele salvara os homens. Mas nunca mais se falou da corda jogada por cima do rio. Tinha sido completamente esquecida.

Os argumentos, os discursos e os ensinamentos dos chamados "sábios" acabaram criando uma grande confusão. Superstições proliferaram e raros foram os que conseguiram distinguir a Verdade.

Oradores declaravam: Por que esta disputa? A única coisa necessária é adorar o herói como um Deus e acreditar que ele morreu para a salvação de todos. E eis que, quando nós morrermos, entraremos sem dificuldades no país da felicidade.

Se o nosso corpo nos proíbe, por enquanto, a travessia do rio, após a morte a nossa alma voará para o outro lado.
O amor, a potência e a coragem do herói eram tão grandes que tudo o que pedirmos a Ele, Ele nos concederá, se demonstrarmos bastante amor.

Quando o povo ouviu isto, sentiu uma alegria imensa e cobriu de honrarias os oradores, falando: "Grande é a sua sabedoria, pois nos mostram um caminho fácil. É simples: adorar, rezar e solicitar ao nosso herói a salvação na hora da nossa morte. Portanto, agora, comamos, bebamos, sejamos alegres e aproveitemos da melhor maneira a nossa estada no meio onde estamos."

Nesse meio tempo o herói contemplava os seus irmãos com tristeza, escutando as suas orações e súplicas. Eles haviam esquecido a corda que ligava o país da infelicidade ao da felicidade, e que havia custado a vida do herói, para deixar a todos o exemplo de Coragem e o
caminho da Paz, que passa pela educação do coração e pela vontade de amar a todas as criaturas.

Aquele povo perdera a chave que lhes permitiria ler as Palavras daquele Herói. Liam com os olhos da carne, em vez de lerem com os olhos da alma.

Ainda surdos para ouvir, não conseguiam escutar o herói que continuava a clamar:

- Acorda! Acorda!! Acorda !!!