quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Temos o que Damos

Podes guardar o pão para muitos dias, ainda que o excesso de tua casa signifique ausência do essencial entre os próprios vizinhos;
todavia, quanto puderes, alonga a migalha de alimento aos que fitam debalde o fogão sem lume.

Podes conservar armários repletos de veste inútil, ainda que a traça concorra contigo à posse do pano devido aos que se cobrem de andrajos; no entanto, sempre que possas, cede a migalha de roupa ao companheiro que sente frio.

Podes trazer bolsa farta, ainda que o dinheiro supérfluo te imponha problemas e inquietações; contudo, quanto puderes, oferece a migalha de recurso aos irmãos em necessidade.

Podes alinhar perfumes e adornos para uso à vontade, ainda que pagues caro a hora do abuso; mas, sempre que possas, estende a migalha de remédio aos doentes em abandono.

Um dia, que será noite em teus olhos, deixarás pratos cheios e móveis abarrotados, cofres e enfeites, para a travessia de grande sombra; entretanto, não viajarás de todo nas trevas, porque as migalhas de amor que tiveres distribuído estarão multiplicadas em tuas mãos como bênçãos de luz.