segunda-feira, 20 de outubro de 2008

NÓS, MULHERES

As mal-humoradas que me perdoem
Momentos de angústia, todas nós temos.
O que não vale é fazer papel de vítima e obrigar o outro a pagar a conta da sua infelicidade

Por Leila Ferreira


Não adianta o corpo sarado nem o rosto sem rugas.
Também não fazem efeito as roupas de grife.
Em mulher mal-humorada, nada funciona:
a única coisa que aparece é o mau humor.
Mulheres de bico, de cara amarrada, ríspidas, amargas, azedas...
alguém merece?!
Elas reclamam o tempo todo:
adoram fazer papel de vítima, repetem 18 vezes por dia que estão exaustas (inclusive nas férias), põem defeito em tudo e em todos e amam fazer profecias negativas.
Exemplo?
Você chega ao escritório e conta, feliz da vida, que conheceu um cara interessantíssimo na noite anterior.
A mal-humorada levanta as sobrancelhas, tomba o pescoço e diz:
'É, se eu fosse você não me animaria muito. Esses caras bebem, se entusiasmam, dizem que vão ligar, mas depois nem se lembram'.
Pronto.
Você, que já não é das mais seguras, sente seu castelo balançar.
Não satisfeita, a colega vidente pergunta alguns dias depois se 'aquele cara' ligou. Quando você confessa que não, ela dá o único sorriso do dia e diz apenas:
'Não te falei...?'.
Além de conjugar o futuro sempre no imperfeito, as mal-humoradas adoram orações adversativas:
'O prato está bom, mas...', 'Fui promovida, mas...'. Há sempre um 'porém', um 'contudo' ou um 'todavia' no caminho dessas almas emburradas.
Às vezes, expressos em silêncio.
É aquela colega que chega, não dá 'bom dia', não abre a boca -e nem precisa:
o rosto dela diz tudo.
Se você perguntar se ela está com algum problema, a mal-humorada só responde: 'Nada, não...'.
E aí a presença dela vai crescendo, porque não há nada tão contagiante, ou contagioso, quanto o mau humor.
Ele intoxica quem está perto, contamina o ambiente.

Momentos de mau humor?
Todas nós temos.
Nada mais humano e mais digno de perdão.
Mas há uma diferença enorme entre estar e ser mal-humorada.
E não vale dizer que a vida anda difícil.
A vida está difícil, sim, e não faltam razões para sentirmos tristeza, angústia, ansiedade.
Mau humor, não: é um outro departamento.
Tristeza e angústia, a gente processa internamente.
Mau humor é quando você apresenta para o outro a fatura da sua infelicidade.
Ele é obrigado a pagar a conta do que você consumiu (ou deixou de consumir) sozinha.
Quem é que quer conviver com alguém assim?

Vi um outdoor em Tóquio que dizia:
'O sorriso é a melhor maquiagem'.
Qualquer mulher fica mais bonita quando sorri.
Não é preciso mostrar os dentes o tempo todo, dar uma de Poliana, como se a vida fosse pink -mesmo porque ela está mais para punk.
Mas é por isso mesmo que a gente tem que ter senso de humor, sempre, em qualquer situação.
Sem ele, fica impossível.

Ainda dá tempo:
pegue de volta aquela sua lista de resoluções para o Ano Novo e inclua:
'Vou adotar uma postura bem-humorada diante da vida'.
Ou então, melhor ainda:
resolva já o que está causando seu mau humor.
É o casamento, ou o namoro, que está respirando por aparelhos?
Talvez seja hora de desligar todos os tubos.
É a dieta, que está te deixando com fome?
Melhor ganhar três quilos do que perder o humor.
Se for o emprego, tente mudar.
Se for a cidade, também.
O que não dá é para puxar o freio de mão na infelicidade e depois apresentar a conta para os outros.
Ah, e antes que você me pergunte, as sugestões também valem para os homens. Homem mal-humorado é castigo que nenhuma mulher merece.
A não ser que ela também seja.
Aí, é chumbo trocado.
E os dois que se (des)entendam.