CORAÇÃO DE MÃE
Ah! Senhor, livrai as mães de todas a
culpas.
Culpa de exagerar na dose do
amor.
Culpa de falhar, de não cumprir
com a tarefa de educar.
Ah! Senhor, livrai as mães do mal, além,
de não corresponder às expectativas
do filho.
De não saber o que se
passa na cabeça e no coração do filho,
de querer adivinhar os seus
pensamentos.
De provar o fel amargo da tristeza.
De não livrar o filho das tentações,
das encruzilhadas, de não ser onipotente,
onisciente e toda-oderosa.
Livrai, Senhor, as mães das artimanhas
do medo.
Fazei, Senhor, que as mães tenham
coragem para enfrentar os caprichos
desta vida, que tenho forças
para não sucumbir.
Tem dias, Senhor, que não é fácil
ser mãe.
Se você protege demais,
está deseducando.
Se você fala
uma coisa e faz outra, está dando
mau exemplo.
Se você fuma, seu
filho, pode ser que vai fumar.
Se você toma cerveja, seu filho
também tomará.
Se você ingere
remédios para aplacar a angústia,
estará conduzindo o filho para o
mesmo caminho.
É como se as mães fossem culpadas
pelo
jeito de ser do filho, pelo molde do
caráter, pelo formato da personalidade,
pela existência das drogas e
da violência.
Expiai, Senhor, as
nossas dolorosas culpas.
Ah! Senhor, uns gritam: “Ponha limites
no
seu filho, porque senão você não irá
agüentar”. Outros bradam:
“Arranje um trabalho, porque ele está
muito ocioso”. Ah, eu queria saber,
Senhor, se tem uma maneira
para criar filho.
Se tem ingredientes e modo de fazer,
sem tem que exagerar na dose
ou racionar.
Se existe uma fórmula para criar filhos,
como bolos, com confeites e
coberturas.
Eu aprendi, Senhor, que filho dá
problema mesmo, mas só o afeto
pode salvar, pode recuperar. Não
existem centros de internação, médico,
padre, polícia, cadeia, repressão,
surra capazes de recuperar um
filho.
Aprendi que um filho que recebe
afeto, retribuirá em dobro.
Será que eu estou enganada, Senhor?
Mas tem dias, Senhor, que tudo parece
perdido, que as conversas viram brigas,
que a esperança se transforma
em pesadelo, que a paciência é
irmã da ira, que a vida parece não ter
mais chance.
Tem dias, Senhor, que as sombras tomam
lugar da luz, que a poesia vira
fumaça, que as lágrimas chegam sem
avisar e lavam o corpo todo como água
benta.
Tem dias, Senhor, que as mães deveriam
deixar de ser mães.Trocar de lugar
com os pais, que tem uma visão
menos emocional do mundo.
Tem dias,
Senhor, que tudo fica pesado como
uma cruz.
Eu queria avisar, Senhor, que as mães
também se sentem frágeis.
Que as mães também querem colo.
Perdoai, Senhor, as mães que não
souberam educar direito, que permitiram
demais, cederam, que foram muito
liberais, que anunciaram um mundo
que não existe, que foram profetas de
uma vida melhor, apesar de tudo dizer
ao contrário.
Perdoai as mães que aqueceram
o ninho em demasia.
Perdoai, Senhor, as mães que não
souberam corrigir na hora certa, que
não souberam dar limites, que foram
permissivas demais, em nome de um
amor incondicional.
Perdoai, Senhor,
as mães que fizeram da vida dos filhos
um paraíso eterno, que preencheram
seus vazios, que não deixaram faltar
nada.Perdoai, Senhor, as mães que acharam
que tudo era normal, que ia passar,
que era próprio da idade e da adolescência,
que não souberam expulsar
os inimigos interiores, que não avisaram
aos filhos que a vida pode ser cruel.Perdoai, Senhor, as mães que não
souberam conduzir os filhos pelos caminhos
da fé e da religiosidade.Perdoai, Senhor, as mães que não ficaram
rezando nas IgrejasPerdoai, Senhor, as mães que tiveram
de lutar para criar seus filhos, que tiveram
que carregar pedras e desbravar
montanhas.
Perdoai, Senhor, as mães
que são amigas demais dos filhos,as
que pensaram que assim seria melhor,
que abriram portas demais.Perdoai, Senhor, as mães que pensaram
em sofrer no lugar dos filhos.
Que colocaram panos quentes, que
amaram demais, que preparam bálsamos
para as feridas, que teceram
sonhos, bordaram ilusões e cozinharam
a esperança, no fogo brando do
amanhã.Perdoai, Senhor, as mães que nunca
expulsaram seus filhos do paraíso.
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