segunda-feira, 20 de outubro de 2008

CORAÇÃO DE MÃE

Ah! Senhor, livrai as mães de todas a

culpas.

Culpa de exagerar na dose do

amor.

Culpa de falhar, de não cumprir

com a tarefa de educar.

Ah! Senhor, livrai as mães do mal, além,

de não corresponder às expectativas

do filho.

De não saber o que se

passa na cabeça e no coração do filho,

de querer adivinhar os seus

pensamentos.

De provar o fel amargo da tristeza.

De não livrar o filho das tentações,

das encruzilhadas, de não ser onipotente,

onisciente e toda-oderosa.

Livrai, Senhor, as mães das artimanhas

do medo.

Fazei, Senhor, que as mães tenham

coragem para enfrentar os caprichos

desta vida, que tenho forças

para não sucumbir.

Tem dias, Senhor, que não é fácil

ser mãe.

Se você protege demais,

está deseducando.

Se você fala

uma coisa e faz outra, está dando

mau exemplo.

Se você fuma, seu

filho, pode ser que vai fumar.

Se você toma cerveja, seu filho

também tomará.

Se você ingere

remédios para aplacar a angústia,

estará conduzindo o filho para o

mesmo caminho.

É como se as mães fossem culpadas

pelo

jeito de ser do filho, pelo molde do

caráter, pelo formato da personalidade,

pela existência das drogas e

da violência.

Expiai, Senhor, as

nossas dolorosas culpas.

Ah! Senhor, uns gritam: “Ponha limites

no

seu filho, porque senão você não irá

agüentar”. Outros bradam:

“Arranje um trabalho, porque ele está

muito ocioso”. Ah, eu queria saber,

Senhor, se tem uma maneira

para criar filho.

Se tem ingredientes e modo de fazer,

sem tem que exagerar na dose

ou racionar.

Se existe uma fórmula para criar filhos,

como bolos, com confeites e

coberturas.

Eu aprendi, Senhor, que filho dá

problema mesmo, mas só o afeto

pode salvar, pode recuperar. Não

existem centros de internação, médico,

padre, polícia, cadeia, repressão,

surra capazes de recuperar um

filho.

Aprendi que um filho que recebe

afeto, retribuirá em dobro.

Será que eu estou enganada, Senhor?

Mas tem dias, Senhor, que tudo parece

perdido, que as conversas viram brigas,

que a esperança se transforma

em pesadelo, que a paciência é

irmã da ira, que a vida parece não ter

mais chance.

Tem dias, Senhor, que as sombras tomam

lugar da luz, que a poesia vira

fumaça, que as lágrimas chegam sem

avisar e lavam o corpo todo como água

benta.

Tem dias, Senhor, que as mães deveriam

deixar de ser mães.Trocar de lugar

com os pais, que tem uma visão

menos emocional do mundo.

Tem dias,

Senhor, que tudo fica pesado como

uma cruz.

Eu queria avisar, Senhor, que as mães

também se sentem frágeis.

Que as mães também querem colo.

Perdoai, Senhor, as mães que não

souberam educar direito, que permitiram

demais, cederam, que foram muito

liberais, que anunciaram um mundo

que não existe, que foram profetas de

uma vida melhor, apesar de tudo dizer

ao contrário.

Perdoai as mães que aqueceram

o ninho em demasia.

Perdoai, Senhor, as mães que não

souberam corrigir na hora certa, que

não souberam dar limites, que foram

permissivas demais, em nome de um

amor incondicional.

Perdoai, Senhor,

as mães que fizeram da vida dos filhos

um paraíso eterno, que preencheram

seus vazios, que não deixaram faltar

nada.Perdoai, Senhor, as mães que acharam

que tudo era normal, que ia passar,

que era próprio da idade e da adolescência,

que não souberam expulsar

os inimigos interiores, que não avisaram

aos filhos que a vida pode ser cruel.Perdoai, Senhor, as mães que não

souberam conduzir os filhos pelos caminhos

da fé e da religiosidade.Perdoai, Senhor, as mães que não ficaram

rezando nas IgrejasPerdoai, Senhor, as mães que tiveram

de lutar para criar seus filhos, que tiveram

que carregar pedras e desbravar

montanhas.

Perdoai, Senhor, as mães

que são amigas demais dos filhos,as

que pensaram que assim seria melhor,

que abriram portas demais.Perdoai, Senhor, as mães que pensaram

em sofrer no lugar dos filhos.

Que colocaram panos quentes, que

amaram demais, que preparam bálsamos

para as feridas, que teceram

sonhos, bordaram ilusões e cozinharam

a esperança, no fogo brando do

amanhã.Perdoai, Senhor, as mães que nunca

expulsaram seus filhos do paraíso.