sexta-feira, 11 de abril de 2008

Triste Acalanto

As luzes do apartamento se apagam.
Chega a solitária hora de dormir.
Quatro travesseiros logo afagam,
um corpo em desespero de sentir...

sentir que as horas da madrugada
escoar-se-ão pelas paredes do quarto.
Consigo mesma, na alcova enluarada,
a insone mulher, em trabalho de parto...

parto dos vínculos que restaram,
das dores que a alma entreteceu.
De todos os sonhos só ficaram,
saudades que a vida empalideceu.

Mudos travesseiros circundam
um território vazio e angustiado.
Desejos descontrolados inundam,
um coração que palpita amargurado.

Na mente, um filme da memória passa.
Cenas de uma série de circunstâncias.
Tantos sonhos que sofreram a devassa
das ilusões em suas últimas instâncias.

Chora então as lágrimas do desconsolo,
mordendo a ponta de um travesseiro.
O esquecer desejado, doce consolo,
já tarda muito a chegar em seu celeiro.

Desde cedo recorreu à melhor esperança.
De um novo querer a chegar de imediato,
em seu real cotidiano, trazendo a bonança.
Porém é difícil encontrar um amor de fato.

A mulher cansada de tamanha estiagem,
eleva à Deus uma prece de coração.
Que ilumine os caminhos desta viagem,
trazendo o doce bálsamo da consolação.