sábado, 8 de dezembro de 2007

BENEFÍCIO OCULTO

Não saiba vossa mão esquerda o que oferece a direita" é a lição de
Jesus que constantemente nos sugere a sementeira do bem oculto.
Entretanto, é preciso lembrar que se "nem só de pão vive o homem", não
se alimenta a virtude tão-somente de recursos materiais.

Acima do benefício que se esconde para ser mais seguro no campo físico,
de modo a que se não firam corpos doentes e bocas famintas pelos
acúleos da ostentação, prevalece o amparo mudo às necessidades do
sentimento, na esfera do espírito, a fim de que os tóxicos da maldade e
os desastres do escândalo não arrasem experiências preciosas com o fogo
da imprevidência.

Se percebeste no companheiro as escamas do orgulho ou da rebeldia,
envolve-o no clima da humildade, socorrendo-lhe a sede imanifesta de
auxílio, e se presenciaste a queda de alguém, no caminho em que
jornadeias, alonga-lhe os braços de irmão, para que se levante, sem
exagerar-lhe os desajustes com a referência insensata.

Se um amigo aparece errado aos teus olhos, cala o verbo contundente da
crítica, ajudando-o com a bênção da prece, e se o próximo surge
desorientado e infeliz, em teus passos, oferta-lhe o favor do silêncio,
para que se reequilibre e restaure.

Não vale encarecer cicatrizes e imperfeições, a pretexto da apagá-las
no corpo das horas, porquanto leve chaga, tratada com desamor, é sempre
ferida e cronicificar-se no tempo.

Distribui, desse modo, a beneficência do agasalho e do pão, evitando
humilhar quem te recolhe os gestos de providência e carinho; contudo,
não olvides estender a caridade do pensamento e da língua, para que o
bálsamo do perdão anule o veneno do ódio e para que a força do
esquecimento extinga as sombras de todo mal.