quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Procurando o papai

Conta-se que, no tempo da guerra entre a Rússia e o Japão, certa tarde, após cessarem os bombardeios, junto à linha de fogo surgiu uma criança perscrutando, com o olhar curioso e indagador, como quem procura descobrir um semblante saudoso e querido naquele triste campo de batalhas. Ao ver a pequena, um bravo soldado japonês que podia dominar a língua eslavo-oriental, tomando em suas mãos calosas as acetinadas mãozinhas da criança, indagou com ternura:-O que deseja, minha pequena? Está procurando algo no meio da tropa? Quem é você? De onde vem? Qual é o seu nome?-Meu nome é Lina. Estou procurando o papai, que há muito tempo não vejo. Sinto tanta saudade e desejava vê-lo agora.-Que pena... O seu papai já não está mais aqui. Ele seguiu em frente. Posso lhe dar algum recado? Fale-me como ele é e vou procurá-lo e dar suas notícias. Está bem?-É fácil distinguí-lo... Meu pai é alto, forte, tem olhos azuis como os meus e um bonito rosto barbado. Os cabelos também são loiros.E a criança, esperançosa, tirou do bolsinho do avental uma foto do pai, dizendo sorridente:-Dou-lhe esta foto para que o reconheça. Ele se chama Ivan.O soldado, comovido, colocou o retrato no bolso da sua túnica e indagou com enorme carinho:-Bem, agora qual é o recado que vai deixar comigo para o seu papai?-Não é nenhum recado que eu quero que lhe dê...-Então o que é? Pode falar que eu prometo fazer o que pede.-Sim, eu quero que chegue juntinho dele e entregue esse meu beijo.Assim dizendo, a pequena pulou ao colo do soldado e beijou-lhe o rosto umedecido pelas lágrimas e voltou correndo por onde havia chegado.Durante toda aquela noite foi intenso o bombardeio e num assalto a tropa japonesa conquistou o inimigo. Os feridos começaram a ser recolhidos indistintamente. Nisto, aquele soldado japonês viu passar, carregado, um soldado cujas feições se assemelhavam muito às da criança. Tirou a foto do bolso e conferiu. Não havia dúvidas. Era ele. O soldado o chama:-Ivan?-O que deseja?-respondeu o russo ferido.-Trago comigo um carinhoso beijo que Lina, sua filhinha lhe enviou.Dizendo isto, beijou a fronte do inimigo ferido e o abraçou ternamente.

Não havia ali lugar para o ódio... Foi o que aprendeu com Lina