OFÍCIO PATERNO
Conta-se que um homem, ainda jovem,
querendo saber o segredo de ser um bom pai, foi visitar um sábio que vivia numa alta montanha.
Sendo recebido por ele, foi logo expondo o seu problema. - Estou aqui porque preciso da sua orientação.
Não sei bem como lidar com meus filhos.
Se sou severo com eles, acusam-me de ser ditador, se sou atencioso, gentil, tomam-me por fraco...
Amigo, me diga qual é a melhor forma de criar os filhos!
O sábio ouviu-o atentamente e limitou-se a entregar-lhe um cinzel e um bloco de madeira, dizendo:
- Pega isso, filho, e leva contigo.
Quando tiveres esculpido uma obra de valor, traga-a aqui e terás a resposta que procura.
O jovem pai olhou-o surpreso.
Não quis ser descortês com quem lhe dispensara um pouco do seu tempo e fizera a gentileza de recebe-lo em sua casa.
Meio decepcionado, pegou o que o sábio lhe oferecia, levantou-se e saiu. Mais entristecido do que nunca, chegou em casa cabisbaixo.
Os filhos logo o cercaram querendo saber para que serviam aqueles instrumentos.
Ele se deixou envolver pela alegria contagiante das crianças e logo se viu sentado entre elas tentando esculpir na madeira.
Passaram-se os dias, quase sem ele perceber. Conseguira concluir sua obra! Então, subiu novamente á montanha e, orgulhoso, apresentou ao sábio o resultado de seus esforços.
Tomando a escultura nas mãos, o sábio observou e apreciou cada detalhe.
- Muito bem! Disse ele dirigindo-se ao pai. -
Ao esculpir a madeira, como eram os golpes que você dava com o cinzel?
Fortes ou fracos?
- No início eu dava golpes duros, secos, desajeitados.
Percebi que isso prejudicava a madeira.
Mas fui aos poucos adquirindo prática e, então, fui aprendendo a golpear com menos força, a usar melhor o cinzel, a tirar somente as lascas que fossem necessárias.
Aprendi a conhecer a madeira, a amar a obra.
Conseguia visualizar quão bela seria mesmo antes dela tomar forma. Aprendi a respeitar suas limitações, e as minhas, a saber que para cada obra é necessário um tipo de madeira, que é preciso paciência, cuidado com os detalhes, saber olhar.
Aprendi que outros podem me ajudar, mas cabe a mim a tarefa de terminar.
Aprendi a não esperar a perfeição, visto que meus próprios esforços são imperfeitos, e que muitas vezes ainda vou errar.
Aprendi que, mesmo se houvesse um modelo a seguir, cada obra é única, não aceita imitação. Aprendi que a beleza já reside na madeira, minha função é apenas ajuda-la a vir para fora. Aprendi que por detrás de uma aparência rude, descuidada e até danificada, pode estar uma madeira nobre, precisando de reparos, que pode ser recuperada se souber trabalhar nela com carinho.
Aprendi a olhar para dentro de mim mesmo, mas a não permanecer apenas lá.
Aprendi que quanto mais perto de Deus me sentir, mais passo isso para o que estou fazendo. Aprendi que estou aqui para aprender mais do que para ensinar...
- Muito bem, meu amigo, concluiu o sábio -
Aprendestes o ofício paterno. Aprendestes a ser Pai!
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