terça-feira, 14 de agosto de 2007

Não fossem as manhãs

Não fossem as janelas
que se abrem preguiçosas ao sol
eu nem veria esse céu
que anuncia
o que faço todo dia...
Não fossem os pardais intrometidos
eu não sentiria esse ar de casa de campo
com chocolate quente à minha espera
em mesa na varanda
com toalha de rendas
e porcelana branca...
Não fossem os meus gestos em rotinas
não haveria mais uma poesia
a sair de meu peito
com esse tum tum tum
a compassar com minha agonia.
Não fossem as buganvílias em flor
seria apenas mais um dia,
um dia qualquer
a se prolongar entre as sombras
onde a luz só rimaria com essa dor sem jeito.
Não fossem as borboletas
beijando cristais em pétalas,
eu estaria assim,
em vôo solo,
abraçando nuvens
mas querendo estar aninhada
em teu colo...
Não fossem estes versos,
nunca saberias
que nas manhãs grávidas de desejos,
eu me visto inteira
de nuances da tua lembrança...
Não fossem estas manhãs
eu nunca saberia
que na tua vida,
inteirinha,
eu caberia...