segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Inconformismo e revolta

— “Não me conformo!” — Explodem, revoltados, aqueles que da vida somente esperam vantagens e recompensas, quando surpreendidos por acontecimentos que lhes parecem desastrosos e trágicos.
— “Deus é injusto!” – Proferem, estentóricos, os que se supõem credores apenas de receber dádivas, embora desassisados, da vida somente retiram lucros e comodidades.
— “Não mereço isto!” – Bradam, desatinados, quantos são colhidos pelo que denominam infortúnios e desgraças, que os desarvoram.
— “Não creio em mais nada!” – Estridulam as pessoas tomadas por insucessos desta ou daquela natureza, que afinal, se fossem examinadas com seriedade e reflexão, constituiriam ocasião iluminativa, roteiro de felicidade.
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O homem teima em permanecer anestesiado pela ilusão, sem dar-se conta, conscientemente, da fragilidade da organização carnal de que se encontra temporariamente revestido.
Cada um, por isso mesmo, a si concede privilégios e se faculta méritos que não possui.
Examinassem melhor a vida, verificariam que as ocorrências do trivial, que atingem os outros, a eles também alcançarão, procurando preparar-se para enfrentar com dignidade quaisquer injunções ou dissabores, que são igualmente transitórios.
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— “Prefiro não saber”. — Informam as pessoas passadistas, quando convidadas ao exame da vida menos densa.
— “Não consigo acreditar”. — Escusam-se as criaturas invitadas ao esclarecimento imortalista, como se estivessem indenes ao fenômeno da cessação da vida biológica.
— “Irei aproveitar o meu tempo, gozando”. — Justificam-se os imediatistas ante qualquer referência à meditação, à caridade, ao sacrifício...
É natural que, visitados por acontecimentos não habituais no canhenho das suas conveniências, derrapem no inconformismo, no desespero, na alucinação...
A ação inexorável do tempo, entretanto, aguarda todos e modela-os, submetendo-os.
Mesmo quando se pretende fugir da situação a que se vai arrojado, cai-se na realidade da vida, que predomina em toda parte.
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Recebe o insucesso como fenômeno normal nos tentames do teu processo evolutivo.
Não te consideres inatingível.
Acostuma-te à fragilidade do corpo e às necessidades de crescimento como espírito que és.
Nenhuma dor te alcança sem critério superior de justiça.
Sofrimento algum no teu campo emocional, que se não acabe, deixando o resultado do seu trânsito.
Utiliza-te das ocorrências que trazem dor, para crescer, e não te apresentes inconformado.
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Jesus, que veio à Terra exclusivamente para viver e ensinar o amor, sem qualquer culpa, nasceu em modesta gruta, passou pelo carreiro de inumeráveis injunções e partiu numa cruz, sob apupos e malquerenças, volvendo, no entanto, Sol Divino que é, em insuperável madrugada que dura até hoje, para que ninguém reclame, nem se revolte, nem se inconforme ante as ocorrências dolorosas do mundo...