domingo, 15 de julho de 2007

O MEDO DE DECEPCIONAR

O receio de decepcionar as outras pessoas pode tornar-se um empecilho em nossa vida.

Este medo faz com que cobremos de nós mesmos uma perfeição impossível de ser alcançada.

Porém, o que geralmente não pensamos é que,

nossa primeira preocupação deveria ser em não decepcionar a nós mesmos.

Quantas vezes acabamos não cumprindo os objetivos que nos havíamos imposto

Nesse caso, passamos por cima de nossos próprios sentimentos

e deixamos de lado nossos sonhos, como se eles não tivessem importância.

Abrir mão de si e daquilo que deseja em função do marido, dos filhos, do namorado

é uma postura bastante comum para muitas pessoas.

Ao fazerem isso, desvalorizam-se e agem como se os sonhos e objetivos que cultivam

valessem menos ou pudessem esperar para um dia, quem sabe, serem concretizados.

Visto que o futuro é apenas uma hipótese e que somente o momento presente existe,

devemos refletir seriamente sobre o hábito de protelar

a conquista de nossos anseios mais profundos.

Muitas vezes a vida poderá não nos dar uma segunda chance.

Essa não é, em absoluto, uma postura egoísta ou individualista diante da vida.

Trata-se isso sim, de não nos anularmos em função seja de quem for,

para que um dia não cobremos dos demais a não realização

de nossos sonhos e nossa conseqüente frustração.

Manter sempre presente em nossa mente quais as metas que desejamos alcançar

ou o que necessitamos para sermos felizes, é uma forma eficaz

de não abdicarmos de nossa vida para satisfação dos demais.

É importante encontrar o ponto de equilíbrio entre nossas necessidades

e as daqueles com os quais convivemos, sem termos que sempre abrir mão

ou fazer concessões quanto a nossas próprias escolhas.

Não me lembro em que momento, percebi que viver deveria ser

uma permanente reinvenção de nós mesmos – para não morrermos soterrados

na poeira da banalidade embora pareça que ainda estamos vivos.

...Para reinventar-se é preciso pensar: isso aprendi muito cedo.

Apalpar, no nevoeiro de quem somos,

algo que pareça uma essência, isso, mais ou menos, sou eu.

Isso é o que eu queria ser, acredito ser, quero me tornar ou já fui.

Muita inquietação por baixo das águas do cotidiano.

Mais cômodo seria ficar com o travesseiro sobre a cabeça

e adotar o lema reconfortante:

“Parar para pensar, nem pensar”!

...Pensar pede audácia, pois refletir é transgredir a ordem do superficial que nos pressiona tanto.

...Mas pensar não é apenas a ameaça de enfrentar a alma no espelho:

é sair para as varandas de si mesmo e olhar em torno, e quem sabe finalmente respirar.

Compreender: somos inquilinos de algo bem maior do que o nosso pequeno segredo individual.

É o poderoso ciclo da existência.

Nele todos os desastres e toda a beleza têm significado como fases de um processo.

Se nos escondermos num canto escuro abafando nossos questionamentos,

não escutaremos o rumor do vento nas árvores do mundo.

Nem compreenderemos que o prato das inevitáveis perdas

pode pesar menos do que o dos possíveis ganhos.

Os ganhos ou os danos dependem da perspectiva e possibilidades de quem vai tecendo a sua história.

O mundo em si não tem sentido sem o nosso olhar que lhe atribui identidade,

sem o nosso pensamento que lhe confere alguma ordem.

Viver, como talvez morrer, é recriar-se:

a vida não está aí apenas para ser suportada nem vivida, mas elaborada.

Eventualmente re-programada. Conscientemente executada. Muitas vezes, ousada.

...Questionar o que nos é imposto, sem rebeldias insensatas, mas sem demasiada sensatez.



Saborear o bom, mas aqui e ali enfrentar o ruim.

Suportar sem se submeter, aceitar sem se humilhar,

entregar-se sem renunciar a si mesmo e à possível dignidade.

Sonhar, porque se desistimos disso, apaga-se a última claridade e nada mais valerá a pena.

Escapar, na liberdade do pensamento, desse espírito de manada

que trabalha obstinadamente para nos enquadrar, seja lá no que for.



E que o mínimo que a gente faça seja, a cada momento,

o melhor que afinal se conseguiu fazer.