segunda-feira, 23 de julho de 2007

Dia de lembranças

Minha vida era tão livre, nos campos da minha terra
naquelas tardes fagueiras, cavalgando ao pé da serra
o vento, meu companheiro, sempre chegava primeiro
ansiosos e felizes, a descer despenhadeiros.

Medo eu não conhecia, o tempo não me deixava
não havia nesse mundo, nada que me abalava
eu pensei ser imortal, não sabia o que era a dor
meus maiores desafios, eram o frio e o calor.

Os mesmos olhos verdes, que o poeta conheceu
trouxeram também a mim, para este recanto meu
onde eu vejo os meus dias, a passarem sonolentos
se não tem muita alegria, também não são de tormentos.

Mas a saudade intrigante, no meu peito fez morada
pinta nele as borboletas, o canto da passarada
os dias sempre festivos, das crianças, a algazarra
até o sol era mais sol, nas antigas alvoradas.

Hoje tudo que me resta, são essas quatro paredes
não tem mais o manacá, nem a varanda com rede
ninguém mais anda sem pressa, parando pra prosear
e voltar já não resolve, que nada está no lugar.

Eu me fecho em minha cela, sem grades e sem janelas
sei que aqui estou a salvo, tudo que sobrou foi ela
mas a alma se recusa, a ficar junto comigo
foge nas asas de um sonho, buscando tempos antigos.

Não encontra mais ninguém, volta sempre cabisbaixa
não entende que a saudade, é só a sombra do passado
que não aceita cabresto, muito menos ser domada
a saudade é uma galega, cavalgando na invernada.

Se ninguém parar seus saltos, algum dia vai cansar
que saudades mais recentes, vão tomar o seu lugar
como tudo nessa vida, nada dura para sempre
se o passado quer voltar, o futuro não consente!