sábado, 9 de junho de 2007

AMAR BONITO

Talvez seja tão simples, tolo e natural que você nunca tenha
parado para pensar: aprenda a fazer bonito o seu amor.Aprenda, apenas, a tão difícil arte de amar bonito.
Gostar é tão fácil que ninguém aceita aprender.
Tenho visto muito amor por aí.
Amores mesmo, bravios, gigantescos, descomunais, profundos,
cheios de entrega , doação e dádiva.
Mas esbarram na dificuldade de se tornarem bonitos.Apenas isso: bonitos, belos ou embelezados, tratados com carinho, cuidado e atenção.
Amores levados com arte e ternura de mãos de jardineiras.
Aí, esses amores que são verdadeiros, eternos e descomunais,
e repente se percebem ameaçados apenas e tão somente
porque não sabem ser bonitos: cobram, exigem,
rotinizam, descuidam, reclamam, deixam de compreender,
necessitam mais do que oferecem, mais do que atendem, enchem-se de razões.
Sim, de razões.
Ter razão é o maior perigo no amor.
Quem tem razão sempre se sente no direito ( e o tem) de reivindicar,
de exigir justica, eqüicidade, equiparação, sem atinar que o que
está com a razão talvez passe por um momento de sua vida na qual não possa ter razão.
Nem queira.
Ter razão é um perigo; em geral enfeia o amor, pois é invocado
com justiça mas na hora errada.
Amar bonito é saber a hora de ter razão.
Ponha a mão na consciência.
Você tem certeza que está
fazendo seu amor bonito?
De que está tirando do gesto, da ação, da reação,
do olhar,da saudade, da alegria do encontro, da dor
do desencontro, a maior beleza possível??
Talvez não.Cheio ou cheia de razões, você espera do amor
apenas aquilo que é exigido por suas partes necessitadas,
quando deles devesse talvez um pouco esperar,
para melhor valorizar tudo de bom que ele de vez em quando pode trazer.
Quem espera mais do que isso, sofre e sofrendo deixa de amar bonito.Sofrendo deixa de ser alegre, igual, irmão, criança.
E sem soltar a criança, nenhum amor é bonito.
Não tema o romantismo.
Derrube as cercas da opinião alheia.
Faça coroas de margaridas e enfeite a cabeça de quem você ama.
Saia cantando e olhe alegre.
Recomendam-se: encabulamentos,
ser pega em flagrante gostando; não se cansar de olhar e olhar; não atrapalhar a convivência, com teorizações, adiar sempre, se possivel com beijos "aquela conversa importante que precisamos ter", arquivar, se possivel, as reclamações pela pouca atenção recebida.
Para quem ama toda a atenção é sempre pouca.
Quem ama feio não sabe que pouca atenção pode ser toda a atenção possível.
Quem ama bonito não gasta tempo dessa atenção cobrando a que deixou de ter.
Não teorize sobre o amor (deixe isso para nós,
pobres escritores que vemos a vida como crianças de
nariz encostado na vitrine cheia de brinquedos dos nossos sonhos);
não teorize sobre o amor: ame.
Siga o destino dos sentimentos aqui e agora.
Não tenha medo exatamente de tudo o que você teme,
como: a sinceridade; não dar certo; depois vir a sofrer (sofrerá de qualquer jeito);
abrir o coração; contar a verdade do tamanho do amor que você sente.
Jogue para o alto todas as jogadas, estratagemas, golpes, espertezas, atitudes sabiamente eficazes (não é sábio ser sabido); seja apenas você no auge
da sua emoção e carência; exatamente aquele você que a vida impede de ser.
Seja você cantando desafinado, mas todas as manhãs.
Falando besteira, mas criando sempre.
Gaguejando flores.
Sentindo o coração bater como no tempo do Natal infantil.
Revivendo os carinhos que intuiu em criança.
Sem medo de dizer: eu quero, eu gosto, eu estou com vontade.
Talvez aí você consiga fazer o seu amor bonito ou fazer bonito o seu amor, ou bonitar fazendo o seu amor, ou amar fazendo seu amor bonito (a ordem das frases não altera o produto) sempre que ele seja a mais verdadeira expressão de tudo o que você é, e nunca: deixaram,
conseguiu, soube, pode, foi possível, ser.
Se o amor existe, seu conteúdo já é manifesto.
Não se preocupe mais com ele e suas definições.
Cuide agora da forma.
Cuide da voz.
Cuide da fala.
Cuide do cuidado.
Cuide do carinho.
Cuide de você.
Ame-se o suficiente para ser capaz de gostar do amor
e só assim poder começar a tentar fazer o outro feliz.