quarta-feira, 16 de maio de 2007

As raízes do Delta

O canto cotidiano em verdade sangrava das mãos
ao improviso da fome, e das vozes ecoando o medo
às raízes do Delta, filhos do Jazz e do degredo,
que nas plantações entoavam o hino a escravidão.


Mata a raiva e a vergonha na seiva da gota que cai,
seca o grito e a dor no olhar que busca o livre céu tão azul,
lamenta o frio em porões aonde morrem os filhos do blues,
que arrasta a sina nos grilhões enquanto a força se esvai.


Quantos ancestrais ouvem o tambor das velhas tribos?
Quais as chuvas benditas que açoitam apenas o grão?
A harmônica rasgando a pele na mesma canção
e o bronze solta o choro e encontra o tom já perdido.


Ainda ontem os sons tocavam a ferrugem dos cravos.
Disseram-me as notas que eu já sei... canções do trabalho!
Esperança que dança em campos qual morto espantalho,
que irônico, sorri ao tempo, onde ainda somos escravos.