FOME SEM NOME
Minhas mãos estão sujas, da inanição
Que assola os jovens e as crianças,
E passa por mim gente sem distinção,
Mortas há muito as suas esperanças.
Quem dera, levar-lhes o meu coração,
Quem dera, levar-lhes o meu coração,
Certa a palavra para as suas andanças,
Mas o seu fado já perdeu a emoção,
Ficou nas ruas pejadas de alianças.
Porque não posso eu levar-lhes um toco
Porque não posso eu levar-lhes um toco
De pão, e vê-las sorrir enfim,
Se o grito é pouco mais que rouco?
Não seria preciso muito nem ser louco,
Não seria preciso muito nem ser louco,
Para que cada um doasse um pouco de si,
Mesmo que isso soasse a pouco.
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